"Ela dança com a música de dentro"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Hoje...

Eu até já me esqueci de você.
De você e de todos os corpos onde você esteve representado.
Esqueci de cada filme que assisti deitada em seu peito, sem conseguir destinguir direito a sonoplastia das bastidas do seu coração, de cada olhar de intimidade que trocamos, de cada lingua e idioma que conhecemos, de cada noite fria, de cada noite de sono mal dormida no sofá, de cada serenata, do nosso lugarzinho preferido, cheio de areia, dos nossos gostos e paladares.
De tudo o que esqueci, a única coisa que me faz falta é sentir alguma coisa, sentir raiva, sentir amor, sentir simpatia, achar que o dia amanhaceu mais bonito depois de uma noite com você; achar que o mundo acabou depois de um dia de indiferença. Sentir a mim mesma, sentir minha essência.
Eu nem lembro mais como é sentir, nem sinto mais frio.
Dizem que isso é amadurecer, é crescer com a dor, aprender com a dor, mas não vejo vantagem. Não vejo vantagem em ter me tornado fria como cada versão de você que já me machucou, tão oportunista como cada você que me usou, que me esgotou emocionalmente como quem não percebe seu feito.
Admito que, agora que me tornei uma versão feminina do seu monstro, eu entendo como todos os você puderam ser tão crueis. Nós somos odiosos e nem nos importamos com isso, normalmente até achamos graça mas, no fundo,todos nós sabemos que não há graça nenhuma em tornar todas as pessoas em quem tocamos, mais cinzas. Nós sabemos porque, mesmo tendo esquecido, toda vez que olhamos um nos olhos do outro nós vemos aquele brilho, sabemos que algo ainda está lá e como isso esquenta cada pedaço de nós.
Acredito que, como todos os você antes incompreendidos, eu aprendi como evitar esse mal estar de lembrar que um dia eu podia sentir: é só nunca mais olhar nos seus olhos.



de: trespquatro.blogspot.com

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